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A importância do perdão e do arrependimento para a conversão

Nesse tempo quaresmal a Igreja nos traz a oportunidade de uma profunda reflexão sobre a nossa própria conversão quando diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho (Marcos 1, 15)”.

A conversão é um processo diário e contínuo que envolve, também, o arrependimento e o perdão. “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade. Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado. Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado (Sl 50, 3-5)”.

O arrependimento é uma resposta emocional diante da percepção de prejuízos causados para nós mesmos ou para outros a partir de nossas atitudes, comportamentos, escolhas e decisões. A palavra arrependimento é de origem grega, significa “metanoia” – mudança de mentalidade, tanto espiritual bem como intelectual. É uma mudança de direção, de forma de pensar, de atitudes, de temperamento, caráter, valores, geralmente, conotando uma evolução”.

A intensidade dessa mudança está relacionada à capacidade do indivíduo de tolerar (ou não) erros e frustrações de modo geral, incluindo erros dos outros e os seus.

Cada vez mais percebe-se uma tendência narcisista, pessoas voltadas apenas para si mesmas, mergulhadas nos próprios sofrimentos/interesses, pessoas que não conseguem sair de si pela incapacidade de lidar com seu  amadurecimento emocional e afetivo. Isso leva a falta de empatia – a capacidade de se colocar no lugar do outro. Se nem a mim eu reconheço, como reconhecer o outro? Observa-se pessoas aprisionadas apenas às suas necessidades e desejos primários, não tendo a consciência de si e muito menos a valorização dos sentimentos alheios.

Um dos pontos abordados por Melanie Klein, em seu trabalho “Amor, Culpa e Reparação”, a maturidade emocional perpassa pelo ato de amar a si mesmo e ao outro; ferir por causa das nossas limitações gerando culpa e a busca pela reparação.

A tomada de consciência do sujeito frente as suas próprias limitações pode levá-lo a um crescimento pessoal e relacional mais saudável. Portanto, uma vida menos adoecida e mais feliz.

O processo de conversão compreende arrependimento e perdão. Se para amar é preciso se doar, renunciar ao egoísmo; o prefixo “per” da palavra perdão significa ‘muito’. Logo, perdoar é doar muito / amar muito”.

O ser humano é composto de três dimensões, corpo, alma (psique) e espírito – “Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” (I Tes 5,23).  Quando não considerada, cuidada e trabalhada essa condição total do ser, o homem se perde em sua própria degradação. Se o ódio, a cisão nos destrói, o amor nos alimenta, nos cura e nos une. “Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro (I João 4,19)”.

A conversão está intrinsecamente ligada a capacidade de Amar à Deus, a nós mesmos e ao outro. “O homem é “capaz” de Deus. Sem o criador a criatura se esvai (CIC 27 e 49)”, afirma o Catecismo da Igreja Católica.

É em nossas ações e reações imediatas que melhor podemos avaliar o nosso processo de conversão. Nesse sentido, se faz necessário sempre voltarmos a nós mesmos. Esse é um movimento criativo que nos leva a ressignificar o nosso mundo interno – eu comigo mesmo e o mundo externo – eu e o outro. “Tens perseverança, sofreste pelo meu nome e não desanimaste. Mas tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna as tuas primeiras obras (Ap 2, 3 -5)”.               

Diante desse tempo proposto pela quaresma – período de reflexão dos nossos atos, busca de arrependimento, perdão e mudança de vida -, se faz necessária a vivência da compaixão, a abertura do coração para a Misericórdia de Deus – assumir em nossa carne a “Sua” Misericórdia, primeiro para conosco e depois para com os irmãos.

Na prática diária deve-se buscar na oração Àquele que o coração do homem tem sede “… porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós (Santo Agostinho, conf. 1,1,1.)”; aprender d’Ele e com Ele o que nos foi ensinado; através de um autêntico exame de consciência buscar o sacramento da reconciliação; nos alimentar de Sua carne e Seu sangue – a Santa Eucaristia; se tornar o sonho de Deus – “Sede santos, porque eu sou santo (I Pedro 1, 16)“.

Dessa forma o amor para com os irmãos e a salvação das almas será uma consequência. Isso não é nada fácil, mas, diante da realização do nosso possível, o impossível o Espírito Santo realizará. “Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto (Isaías 55, 6)”.

Enfim, ouçamos o apelo do nosso Papa Francisco: “Não deixemos que passe em vão este tempo favorável!”

Lúcia Fátima Lopes Silvério*
Coordenadora Estadual do Ministério de Intercessão
Renovação Carismática Católica de São Paulo

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Referências bibliográficas

Agostinho, Santo. Confissões. Brasil: Vozes, 28ª edição, 2015
Klein, Melanie. Amor, Culpa e Reparação e outros trabalhos (1930). Rio de Janeiro: Imago, 1996

Imagem ilustrativa: Divulgação/Internet

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